Discurso do Papa Francisco aos catequistas, por ocasião do Ano da Fé
Discurso do Papa na Jornada dos Catequistas, por ocasião do Ano da Fé
Sala Paulo XVI, no Vaticano
Sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Queridos catequistas,
Estou feliz que
no Ano da Fé haja este encontro para vocês: a catequese é um pilar para
a educação da fé, e precisamos de bons catequistas! Obrigada por este
serviço à Igreja e na Igreja. Mesmo se às vezes possa ser difícil,
trabalha-se tanto, empenha-se e não se veem os resultados desejados,
educar na fé é belo! Ajudar as crianças, os rapazes, os jovens, os
adultos a conhecer e a amar sempre mais o Senhor é uma das aventuras
educativas mais belas, constrói-se a Igreja! “Ser” catequistas! Vejam
bem, não disse “fazer” os catequistas, mas “sê-lo”, porque envolve a
vida. Conduz-se ao encontro com Jesus com as palavras e com a vida, com o
testemunho. E “ser” catequistas requer amor, amor sempre mais forte por
Cristo, amor pelo seu povo santo. E este amor, necessariamente, parte
de Cristo.
O que significa este partir de Cristo para um catequista, para vocês, também para mim, porque também eu sou um catequista?
1. Primeiro de
tudo, partir de Cristo significa ter familiaridade com Ele. Jesus o
recomenda com insistência ao discípulos na Última Ceia, quando estava
prestes a viver o dom mais alto do amor, o sacrifício da Cruz. Jesus
utiliza a imagem da videira e dos ramos e diz: permaneçam no meu amor,
permaneçam ligados a mim, como o ramo está ligado à videira. Se somos
unidos a Ele, podemos dar frutos, e esta é a familiaridade com Cristo.
A primeira
coisa, para um discípulo, é estar com o Mestre, escutá-lo, aprender com
Ele. E isto vale sempre, é um caminho que dura toda a vida! Para mim,
por exemplo, é muito importante permanecer diante do Tabernáculo; é um
estar na presença do Senhor, deixar-se olhar por Ele. E isto aquece o
coração, mantém aceso o fogo da amizade, te faz sentir que Ele
verdadeiramente te olha, está próximo a você e te quer bem. Entendo que
para vocês não é assim simples: especialmente para quem é casado e tem
filhos, é difícil encontrar um tempo longo de calma. Mas, graças a Deus,
não é necessário fazer tudo do mesmo modo; na Igreja há variedade de
vocações e variedade de formas espirituais; o importante é encontrar o
modo adequado para estar com o Senhor; e isto se pode, é possível em
toda etapa da vida. Neste momento, cada um pode se perguntar: como vivo
este “estar” com Jesus? Tenho aqueles momentos em que permaneço na sua
presença, em silêncio, deixo-me guiar por Ele? Deixo que o seu fogo
aqueça o meu coração? Se no nosso coração não há o calor de Deus, do seu
amor, da sua ternura, como podemos nós, pobres pecadores, aquecer os
corações dos outros?
2. O segundo
elemento é este: partir de Cristo significa imitá-Lo no sair de si e ir
ao encontro do outro. Esta é uma experiência bela, e um pouco paradoxal.
Por que? Porque quem coloca no centro da própria vida Cristo sai do
centro! Mais se une a Jesus e Ele se torna o centro da tua vida, mais
Ele te faz sair de ti mesmo, te descentraliza e te abre aos outros. Este
é o verdadeiro dinamismo do amor, este é o movimento do próprio Deus!
Deus é o centro, mas é sempre doação de si, relação, vida que se
comunica… Assim nos tornamos também nós se permanecemos unidos a Cristo,
Ele nos faz entrar neste dinamismo do amor. Onde há verdadeira vida em
Cristo, há abertura ao outro, há saída de si para ir ao encontro do
outro em nome de Cristo.
O coração do
catequista vive sempre esse movimento de “sístole – diástole”: união com
Jesus, encontro com o outro. Sístole – diástole. Se falta um destes
dois movimentos não bate mais, não vive. Recebe como dom o Kerigma, e
por sua vez o oferece como dom. É esta a natureza do próprio Kerigma: é
um dom que gera missão, que impulsiona sempre para fora de si mesmo. São
Paulo dizia: “O amor de Cristo nos impulsiona”, mas este “nos
impulsiona”, pode se traduzir também em “nos possui”. É assim: o amor te
atrai e te envia, te toma e te doa aos outros. Nesta tensão se move o
coração do cristão, em particular o coração do catequista: união com
Jesus e encontro com o outro? Se alimenta no relacionamento com Ele, mas
para levá-Lo aos outros? Eu digo uma coisa para vocês: eu não entendo
como um catequista pode permanecer parado, sem este movimento.
3. O terceiro
elemento está sempre nessa linha: partir de Cristo significa não ter
medo de ir com eles às periferias. Me vem à mente a história de Jonas,
uma figura verdadeiramente interessante, especialmente nos nosso tempos
de mudanças e incertezas. Jonas é um homem piedoso, com um a vida
tranquila e organizada, isso o leva a ter os seus esquemas bem claros e a
julgar tudo e todos com estes esquemas, de modo rígido. Por isso,
quando o Senhor o chama e lhe diz para ir a Nínive, a grande cidade
pagã, Jonas não quer ir. Nínive está fora de seus esquemas, é a
periferia de seu mundo. E então, ele escapa, foge, embarca em um navio
que vai para longe. Releiam o livro de Jonas! É breve, mas é uma palavra
muito instrutiva, especialmente para nós que estamos na Igreja.
Que coisa nos
ensina? Nos ensina a não ter medo de sair dos nosso esquemas para seguir
a Deus, porque Deus vai sempre além, Deus não tem medo das periferias.
Deus é sempre fiel e criativo, não é fechado e por isso nunca é rígido,
nos acolhe, nos vem ao encontro, nos compreende. Para ser fiel, para ser
criativo, é necessário saber mudar. Para permanecer com Deus necessita
saber sair, não ter medo de sair. Se um catequista se deixa dominar pelo
medo, é um covarde; se um catequista está tranquilo ele acaba sendo uma
estátua de museu; se um catequista é rígido se torna encarquilhado e
estéril. Pergunto a vocês: alguém quer ser um covarde, estátua de museu
ou estéril?
Mas atenção!
Jesus não diz: ide, e se virem. Não! Jesus disse: Ide, eu estou
convosco! Essa é a nossa beleza e a nossa força. Se nós partimos, se
saímos para levar o seu Evangelho com amor, com verdadeiro espírito
apostólico, com parresia, Ele caminha conosco, nos precede, é o primeiro
sempre. Vocês aprenderam o sentido dessa palavra. E isso é fundamental
para nós: Deus sempre nos precede! Quando pensamos estar longe, em uma
extrema periferia, e talvez temos um pouco de temor, na verdade Ele já
está lá. Jesus nos espera no coração daquele irmão, em sua carne ferida,
em sua vida oprimida, em sua alma sem fé. Jesus está ali, naquele
irmão. Ele sempre nos precede.
Caros
catequistas, digo a vocês obrigado por aquilo que fazem, mas, sobretudo,
porque vocês estão na Igreja, no Povo de Deus em caminho. Permaneçamos
com Cristo, procuremos ser sempre uma só coisa com Ele; O sigamos
imitando-O em seu movimento de amor, no seu ir ao encontro do homem; e
saiamos, abramos as portas, tenhamos a audácia de trilhar novas estradas
para o anúncio do Evangelho!
Texto tirado do Portal Ecclesia